sábado, 7 de junho de 2008

Capitão Alatriste

Gosto da escrita de Arturo Pérez-Reverte, embora só tenha lido dois ou três livros seus. O que primeiro me chamou a atenção para a sua obra foi um filme, de Polanski por sinal, chamado A Nona Porta, baseado n' O Clube Dumas de Pérez-Reverte. Li o primeiro livro dele que consegui encontrar, A Pele do Tambor e depois o Cemitério dos Barcos sem Nome. Gostei do estilo dos seus protagonistas, sempre homens sem amarras, com pouco ou nada a perder e, portanto, com capacidade para arriscar e seguir os seus instintos até ao fim.
Curiosamente, depois de ter visto O clube Dumas, e A Tábua da Flandres no cinema sem ter a noção de quem era o autor das histórias, fui mais uma vez surpreendido, aqui há tempos, quando fui ao cinema ver O Capitão Alatriste. Este filme, protagonizado por Viggo Mortensen, é também baseado em histórias de Arturo Pérez-Reverte, neste caso uma mescla dos livros daquele herói publicados até agora.
Esta facto bastou-me para comprar, e ler, o primeiro título da saga chamado, precisamente, Capitão Alatriste. Entretanto ofereceram-me o terceiro, O Sol de Breda, que acabei de ler.
Alatriste, apesar do nome Capitão, é um soldado ao serviço do rei de Espanha Felipe IV (III de Portugal), e a acção deste livro é passada na Flandres, levando-nos ao cerco e capitulação de Breda, que é retratada no famoso quadro de Velazquez, amplamente mencionado na obra, A Rendição de Breda ou As lanças.
Alatriste é tido como uma espécie d' Os Três Mosqueteiros espanhol, livros de aventuras que se tornam em imediatos sucessos de vendas sempre que é lançada um novo. Confesso que não as considero grandes aventuras, pois acho que lhes falta o ritmo frenético tão habitual nas obras de suspense, e de capa e espada. O ritmo é um pouco lento e não existe, no caso d' O Sol de Breda, um mistério ou qualquer outro tipo de enredo base para suportar a história e dar emoção ao livro.
Gosto, no entanto, do excelente trabalho de Pérez-Reverte a recriar o ambiente da Europa do século XIV, do cheiro a pólvora e da humidade que emana do livro. Do orgulho de fazer parte de uma nação que já foi a maior do mundo, e cujos exércitos faziam tremer a Europa, do espírito de camaradagem e de lealdade à bandeira que saem das trincheiras e do ambiente boémio da Madrid do Século de Ouro Espanhol.
Numa altura em que estamos submergido em referências Anglo-Saxónicas, em que até os romances históricos sobre Roma são, na maior parte, escritos por autores Ingleses e Norte Americanos, Alatriste constitui uma agradável lufada de ar fresco num género literário que, já com um óbvio excesso de oferta, começa a ficar bolorento.
Por estas razões e, porque não, por esta parte da história de Espanha ser também de Portugal, vou, com certeza, ler mais uma destas grandes aventuras.

Nota sobre o quadro: O que mais me fascinou neste quadro de Velazquez, foi o facto de parecer mesmo uma fotografia, mais de 200 anos antes desta ter sido inventada. Ora vejam bem as poses e expressões de quem lá está!