quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Almoçaradas

Hoje fui almoçar a um restaurante. Nada de extraordinário nisto, é uma coisa que a maior parte dos portugueses faz, quase todos os dias. A diferença para os outros dias é que estou de férias e, aproveitando-me desse facto, fui almoçar tarde, evitando desta maneira as confusões e barulheira das horas de ponto dos restaurantes. Entrei no restaurante por volta das duas e meia da tarde e instalei-me numa mesa num canto onde não ouvisse a televisão muito alto (a pior praga das tascas à portuguesa, que têm sempre uma televisão a altos-berros que nunca ninguém consegue ouvir em condições.). Numa mesa atrás da minha estavam três alegres convivas que, quando lá cheguei, já tinham acabado de almoçar, embora por ali permanecessem na palheta. Cerca das três e um quarto, já depois de terem pedido a segunda dose de whisky, um deles recebeu um telefonema de alguém a perguntar-lhe se ainda se iria encontrar com ele como combinado. O conviva pediu-lhe desculpas, mas o almoço tinha-se atrasado e, embora ainda estivesse a 100 km (!) do local onde tinham combinado encontrar-se, sairia logo de seguida para se encontrar com ele, pois precisava de o ver. Presumo eu que ele deveria ter marcado o encontro para as três da tarde, que lhe dava tempo de fazer cem quilómetros se acabasse de almoçar às duas. Depois do telefonema, ainda prolongaram o “almoço” até às três e meia, hora a que eu também saí do restaurante, tendo-se envolvendo numa discussão sobra a maneira como os colegas tratavam os carros, deixando-os sujos, para depois concluir que os chefes não apreciavam os bons funcionários, que tratam bem os carros, mas apenas aqueles que lhes vão “soprar aos ouvidos”.
Pois, digo eu, os bons funcionários que ficam no almoço até às três e meia da tarde, faltando a compromissos e, mesmo depois da falaram com quem tinham combinado ainda arrastam os almoços por mais um quarto de hora.
Assim vai o nosso país.

Algumas impressões sobre França

A primeira pista de que de facto me encontrava num país civilizado foi na estrada. Apesar do trânsito caótico não se ouvia uma única buzinadela, raramente observei condutores a ultrapassar o limite de velocidade e nas autoestradas, normalmente com três faixas, a faixa da esquerda está sempre livre para quem queira ultrapassar ou arriscar o excesso de velocidade.
Apesar de tudo, numa altura em que parámos para tomar um “expresso”, que na região de Tours é, de facto, um carioca (em Paris já se consegue beber um expresso razoável), entrámos num café que tinha, à solta, um magnífico exemplar de Boieiro de Berna. Perguntei ao meu colega francês se em França não era obrigatório os cães usarem trela como na Alemanha, ou na Itália, ao que ele me respondeu, laconicamente: “Sim! Mas aqui estamos no campo”.
Uma vez latinos, sempre latinos.

Francesices

Quando andava no liceu, já não me lembro se no oitavo, se no nono ano, fiz um teste de francês que continha um texto sobre um rapaz que tinha sido atropelado quando saiu do passeio. Ora, em Francês, passeio é “trottoir” e eu, na minha ignorância da língua de Victor Hugo, confundi “trottoir” com trotinete. Escusado será dizer que não percebi nada do texto em questão, e que fui premiado com a correspondente nota negativa. O problema, no entanto, é que na minha ingenuidade contei o feito quando cheguei a casa, tendo ficado conhecido desde então como um verdadeiro nabo na língua e, sempre que o assunto Francês vem à baila em família, sou brindado com preciosidades do género: “encore bien que je te trouve” (ainda bem que te encontro) ou “avec allors par ici” (com que então por aqui). Devo dizer que, apesar de não ser fluente, até me desenrasco bem, como aliás prova a minha recente viagem de formação a Tours.
Em Tours descobri outra dimensão para esta problemática; é que para além de quase ninguém falar Inglês, mesmo numa multinacional Americana como a em que trabalho, os que falam, esses sim, têm frases lapidares que mais parecem saídas do bloco de notas de Mourinho. Coisas do género: all right (tout droit – sempre em frente), ou, “ici c’est le Palais of la Justice”.
Agora já tenho alguma coisa com que argumentar quando houver tentações familiares de fazer pouco do meu francês.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

O serviço público.

Qual será noção da RTP de serviço público? É que entre jogos de Futebol de selecção de sub-21 e “mesas rotundas” sobre o infeliz caso “Maddie”, esqueceram-se que Selecção Portuguesa de Râguebi ia representar o país na mais importante prova mundial da modalidade. Embora soubéssemos, à partida, que a nossa participação consistiria em levar grandes cabazadas, e de não pretender discutir o interesse público de jogos de futebol de juniores, ou de longos programas de televisão sobre casos de polícia, parece-me que aquele merece tanto, ou mais, tempo de antena que os restantes. É que o facto da Selecção de Râguebi ter chegado ao Mundial deveria ser um caso-de-estudo nacional. Como é que uma equipa sem condições, em que os participantes têm de conjugar os treinos com a sua vida profissional e familiar e que, no fim de tudo, têm de usar as suas férias para participar no campeonato do mundo, conseguem alcançar um lugar entre os grandes?
Isto só é possível com um enorme espírito de sacrifício, com um tremendo amor à camisola, com uma grande vontade de demonstrar que também somos capazes e que temos, de facto, material humano de qualidade superior. Este deveria ser o exemplo a apresentar que, não fora o “azar” de termos um país pobre, poderíamos ser, sem dúvida, como os melhores. Basta algum esforço, dedicação e vontade de triunfar.
Acho que tudo isto deveria merecer, pelo menos, o direito à transmissão em sinal aberto de quatro – Quatro! – miseráveis joguinhos da fase de grupos do mundial, porque não passaremos à fase seguinte.

domingo, 9 de setembro de 2007

Abelha Maia – Mistério de infância.

Não sei se estas minhas dúvidas existenciais de infância são partilhadas por mais alguém, mas houve sempre duas coisas que me fizeram “espécie” na Abelha Maia: o facto das vespas serem muito maiores que as abelhas, e andarem sempre a ver se as apanhavam. Para a minha observadora mente infantil, era óbvio que as vespas e as abelhas são de tamanho muito semelhante, sendo as abelhas, talvez, um pouco mais “rechunchudas”, e também não me constava que a profissão das vespas fosse andar a dar cabo de abelhas. Como me era costume, já na infância, um simples detalhe destes não me impedia de apreciar a série, tomava-o como um engano ou uma excessiva dramatização e nunca me dei ao trabalho de investigar este mistério, tendo-o armazenado nalguma gaveta obscura da minha memória. Ora eis que este fim-de-semana um programa televisivo, não só abriu aquela gaveta como resolveu o poeirento mistério – Obrigado SIC – Ao ver um programa sobre a Vespa Asiática verifiquei que de facto as vespas, no Japão, são duas a três vezes o tamanho das abelhas, e que grande parte da sua dieta é constituída por abelhas europeias importadas para o Japão para produzir mel. Se juntarmos a este caldo o facto da série ser originária do Japão temos o mistério esclarecido. Volta Maia que estás perdoada.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Começa já amanhã!


Já lá vão mais de cento e cinquenta anos desde que, segundo a lenda, William Webb Ellis pegou na bola, numa partida de futebol, e correu com ela para dentro da baliza fazendo nascer uma das variantes do futebol conhecida como “Rugby” (palavra aportuguesada para Râguebi). Lenda, ou não, o seu nome ficou para sempre ligado à história deste desporto, e é assim que se chama a taça que será entregue ao campeão do mundo de Râguebi no dia 20 de Outubro em Saint-denis, França.
Somos levados a pensar, normalmente, que o que separou o Râguebi do Futebol, foi o facto de se poder movimentar a bola com a mão no primeiro e não no segundo. Mas não é bem assim.
Em meados do século XIX, praticava-se o futebol um pouco por toda a Inglaterra, sem regras bem definidas e com variações de sítio para sítio. Embora já houvesse uma separação entre dois estilos, não existia um grupo de regras que normalizasse este desporto. Foi por isso que, em 1863, vários clubes se juntaram, em Londres, para deliberar sobre um conjunto de regras que tornasse homogénea a prática do futebol. No entanto, esse grupo decidiu banir a prática de “runing with the ball and hacking” (o que queria dizer, literalmente, correr com a bola e dar chutos nas canelas), considerada como desumana – curiosamente, nas versões actuais destes desportos, o “hacking” é prática corrente no Futebol, enquanto mal se vê no Râguebi. Na opinião de um dos clubes presente nessa reunião, que jogava a variante de Rugby, a supressão daquela regra, estragava o espírito do desporto, razão pela qual se afastou daquela que ainda hoje é a “Football Association”, para mais tarde, em 1871, juntar um grupo de clubes e formar a “Rugby Footbal Union” e estabelecer as leis do jogo.
Entre Râguebi e Futebol as diferenças são enormes, tantas, que nem vale a pena fazer uma comparação; são dois jogos totalmente diferentes actualmente, que tiveram um passado comum. Interessa, no entanto, salientar uma diferença abismal que existe entre os dois jogos: a atitude dos intervenientes, que tão bem se resume na célebre frase inglesa: “football is a gentlemen's game played by hooligans , and rugby is a hooligan's game played by gentlemen”.
Até 1995, o Râguebi era um desporto exclusivamente amador. A questão no amadorismo era tanta que até fez com que o IRB (International Rugby Board) retirasse o Râguebi dos Jogos Olímpicos por considerar que era a única modalidade amadora que por lá andava. Foi, por ventura, o único desporto amador que conseguia encher estádios, e em que os seus praticantes elevaram a modalidade e níveis de competição iguais ao desportos profissionais. Uma vez profissional o Râguebi tem uma organização de fazer inveja a muitos outros desportos, nomeadamente o Futebol, na defesa da modalidade acima de tudo, enquanto o seu primo afastado, salvo raras e honrosas excepções, serve, acima de tudo, interesses pessoais.
A nível de formação existe um oceano de separação entre estes dois desportos. Os jogadores de Râguebi são habituados, desde tenra idade, a respeitar as regras, o jogo, o árbitro e os adversários. É comum, ao nível de formação, um jogador ser repreendido pelo árbitro, e mesmo pelos companheiros de equipa, quando se manifesta excessivamente em comemorações, chegando mesmo a poder ver os pontos anulados. Todos sabem, desde que começam a jogar, que a contestação das decisões dos árbitros, tem como resultado o avanço das penalidades 10m em direcção à sua própria linha de meta, o que põe o adversário mais perto de conseguir pontuar. E o que dizer dos próprios árbitros que, como qualquer pessoa poderá constatar no campeonato do mundo que se aproxima, apesar do Râguebi ser um jogo muito mais difícil de ajuizar que o Futebol, são de muito melhor qualidade, mais pedagógicos, sempre em diálogo com os jogadores e, muitas vezes, alertando-os para uma situação irregular que, se persistir, é sancionada.
O Râguebi é um desporto de contacto, com uma dureza e um nível de exigência física muito superiores ao do Futebol, no entanto, durante um jogo, os seus jogadores lesionam-se muito menos vezes e, nas raras ocasiões em que têm de ser assistidos, fazem-no sem se parar o jogo, junto à linha; todos sabem que são necessários em campo e quanto mais tempo passarem fora dele pior para as suas equipes, portanto, só pedem assistência quando é realmente necessário.
Desde que assumiu a profissionalização, o Râguebi, fez tremendas mudanças para melhorar a espectacularidade e a jogabilidade dos encontros, implementado novidades tecnológicas, como, por exemplo, um árbitro de televisão, encarregue de examinar as jogadas mais duvidosas recorrendo a imagens televisivas, e em que todos os árbitros estão em constante comunicação fazendo até, por vezes, esclarecimentos públicos.
É assim, com enorme expectativa, que aguardo o começo desse grande acontecimento em que Portugal participa, pela primeira vez na sua história. Curiosamente foi só agora, numa altura em que o Râguebi se profissionalizou profundamente, que Portugal, na ingenuidade do seu amadorismo, conseguiu chegar ao topo na modalidade. Ocupa um honroso 22º lugar no ranking do IRB, embora longe da categoria de selecções que vai defrontar nesta fase de grupos, como a Escócia, ou os ultra-favoritos “All Blacks” da Nova Zelândia, país com uma população de número semelhante à Portuguesa, mas com um râguebi de outra galáxia ou não fossem os homens Neo-Zelandêses dividos em três categorias: os que jogam Râguebi, os que já jogaram e os que hão de jogar. Vamo levar umas valentes “cabazadas” e, sinceramente, nem acredito que ganhemos à Roménia, porque quando jogarmos com eles já jogámos com a Escócia e a Nova Zelândia, embates desgastantes, enquanto eles jogaram coma Escócia e a Itália, jogos, teoricamente, menos exigentes. Mas não faz mal, porque se no Râguebi há lugar para bons, maus, fortes e fracos, só não há lugar para aqueles que não deixam a pele em campo, profissionais ou amadores.

Nota: A parte histórica foi descaradamente copiada dessa excelente invenção da Humanidade, a Wikipédia.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

O Governo e a “inducação”

Ao mesmo tempo que faz da educação o seu grande desígnio para a nação, e a sua maior conquista da legislatura, o governo vai, paulatinamente, retirando benefícios fiscais aos contribuintes nesta mesma rubrica. Ou seja, há que educar os Portugueses, temos que investir na formação dos cidadão porque só assim poderemos triunfar neste mundo competitivo mas, como somos um país pobre, alguém que pague a conta porque o Estado não tem dinheiro.
É caso para dizer, como o outro: o Governo bem aposta na educação, o problema é que nunca sai!