quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Começa já amanhã!


Já lá vão mais de cento e cinquenta anos desde que, segundo a lenda, William Webb Ellis pegou na bola, numa partida de futebol, e correu com ela para dentro da baliza fazendo nascer uma das variantes do futebol conhecida como “Rugby” (palavra aportuguesada para Râguebi). Lenda, ou não, o seu nome ficou para sempre ligado à história deste desporto, e é assim que se chama a taça que será entregue ao campeão do mundo de Râguebi no dia 20 de Outubro em Saint-denis, França.
Somos levados a pensar, normalmente, que o que separou o Râguebi do Futebol, foi o facto de se poder movimentar a bola com a mão no primeiro e não no segundo. Mas não é bem assim.
Em meados do século XIX, praticava-se o futebol um pouco por toda a Inglaterra, sem regras bem definidas e com variações de sítio para sítio. Embora já houvesse uma separação entre dois estilos, não existia um grupo de regras que normalizasse este desporto. Foi por isso que, em 1863, vários clubes se juntaram, em Londres, para deliberar sobre um conjunto de regras que tornasse homogénea a prática do futebol. No entanto, esse grupo decidiu banir a prática de “runing with the ball and hacking” (o que queria dizer, literalmente, correr com a bola e dar chutos nas canelas), considerada como desumana – curiosamente, nas versões actuais destes desportos, o “hacking” é prática corrente no Futebol, enquanto mal se vê no Râguebi. Na opinião de um dos clubes presente nessa reunião, que jogava a variante de Rugby, a supressão daquela regra, estragava o espírito do desporto, razão pela qual se afastou daquela que ainda hoje é a “Football Association”, para mais tarde, em 1871, juntar um grupo de clubes e formar a “Rugby Footbal Union” e estabelecer as leis do jogo.
Entre Râguebi e Futebol as diferenças são enormes, tantas, que nem vale a pena fazer uma comparação; são dois jogos totalmente diferentes actualmente, que tiveram um passado comum. Interessa, no entanto, salientar uma diferença abismal que existe entre os dois jogos: a atitude dos intervenientes, que tão bem se resume na célebre frase inglesa: “football is a gentlemen's game played by hooligans , and rugby is a hooligan's game played by gentlemen”.
Até 1995, o Râguebi era um desporto exclusivamente amador. A questão no amadorismo era tanta que até fez com que o IRB (International Rugby Board) retirasse o Râguebi dos Jogos Olímpicos por considerar que era a única modalidade amadora que por lá andava. Foi, por ventura, o único desporto amador que conseguia encher estádios, e em que os seus praticantes elevaram a modalidade e níveis de competição iguais ao desportos profissionais. Uma vez profissional o Râguebi tem uma organização de fazer inveja a muitos outros desportos, nomeadamente o Futebol, na defesa da modalidade acima de tudo, enquanto o seu primo afastado, salvo raras e honrosas excepções, serve, acima de tudo, interesses pessoais.
A nível de formação existe um oceano de separação entre estes dois desportos. Os jogadores de Râguebi são habituados, desde tenra idade, a respeitar as regras, o jogo, o árbitro e os adversários. É comum, ao nível de formação, um jogador ser repreendido pelo árbitro, e mesmo pelos companheiros de equipa, quando se manifesta excessivamente em comemorações, chegando mesmo a poder ver os pontos anulados. Todos sabem, desde que começam a jogar, que a contestação das decisões dos árbitros, tem como resultado o avanço das penalidades 10m em direcção à sua própria linha de meta, o que põe o adversário mais perto de conseguir pontuar. E o que dizer dos próprios árbitros que, como qualquer pessoa poderá constatar no campeonato do mundo que se aproxima, apesar do Râguebi ser um jogo muito mais difícil de ajuizar que o Futebol, são de muito melhor qualidade, mais pedagógicos, sempre em diálogo com os jogadores e, muitas vezes, alertando-os para uma situação irregular que, se persistir, é sancionada.
O Râguebi é um desporto de contacto, com uma dureza e um nível de exigência física muito superiores ao do Futebol, no entanto, durante um jogo, os seus jogadores lesionam-se muito menos vezes e, nas raras ocasiões em que têm de ser assistidos, fazem-no sem se parar o jogo, junto à linha; todos sabem que são necessários em campo e quanto mais tempo passarem fora dele pior para as suas equipes, portanto, só pedem assistência quando é realmente necessário.
Desde que assumiu a profissionalização, o Râguebi, fez tremendas mudanças para melhorar a espectacularidade e a jogabilidade dos encontros, implementado novidades tecnológicas, como, por exemplo, um árbitro de televisão, encarregue de examinar as jogadas mais duvidosas recorrendo a imagens televisivas, e em que todos os árbitros estão em constante comunicação fazendo até, por vezes, esclarecimentos públicos.
É assim, com enorme expectativa, que aguardo o começo desse grande acontecimento em que Portugal participa, pela primeira vez na sua história. Curiosamente foi só agora, numa altura em que o Râguebi se profissionalizou profundamente, que Portugal, na ingenuidade do seu amadorismo, conseguiu chegar ao topo na modalidade. Ocupa um honroso 22º lugar no ranking do IRB, embora longe da categoria de selecções que vai defrontar nesta fase de grupos, como a Escócia, ou os ultra-favoritos “All Blacks” da Nova Zelândia, país com uma população de número semelhante à Portuguesa, mas com um râguebi de outra galáxia ou não fossem os homens Neo-Zelandêses dividos em três categorias: os que jogam Râguebi, os que já jogaram e os que hão de jogar. Vamo levar umas valentes “cabazadas” e, sinceramente, nem acredito que ganhemos à Roménia, porque quando jogarmos com eles já jogámos com a Escócia e a Nova Zelândia, embates desgastantes, enquanto eles jogaram coma Escócia e a Itália, jogos, teoricamente, menos exigentes. Mas não faz mal, porque se no Râguebi há lugar para bons, maus, fortes e fracos, só não há lugar para aqueles que não deixam a pele em campo, profissionais ou amadores.

Nota: A parte histórica foi descaradamente copiada dessa excelente invenção da Humanidade, a Wikipédia.

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