sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Raquel

Em tempos tive uma cadela, ou melhor, o meu avô tinha uma cadela, porque ele é que era o verdadeiro dono do bicho.
A cadela, de seu nome Raquel, tinha um feitio picado das bexigas e era muito ciosa do seu "espaço vital". Por espaço vital entenda-se o aquecedor a gás que o meu avô acendia, exclusivamente para o bichinho, no inverno e a pedido deste. Sim, a pedido dela; a Cadela dava patadas no aquecedor enquanto gania e o meu avô ia a correr ligar o aparelho enquanto dizia: "Coitadinha. Tens frio não é?"
Excusado será dizer que o resto da malta bem podia resmungar a dizer que tinha frio que o meu avô dizia logo: "Ora, ora. Vistam mais uma camisola". E nada de acender o aquecedor.
Pois naquela altura também havia lá em casa uma prima espanhola, a Carmela, a quem nós carinhosamente chamávamos a Caramela, que entendia que também tinha direito a instalar-se à frente do aquecedor, no inverno.
Era ver a fita. A minha avó avisava: "Ó Carmela, não te chegues ao aquecedor que a cadela não gosta". Ao que esta respondia: "Ora essa, também tenho direito!".
Já a cadela não queria saber de direitos de ninguém: duas rosnadelas para avisar e à terceira, dentada!
E claro, ninguém se atrevia a tirar dali o bicho, não fosse o meu avô zangar-se.

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