domingo, 27 de fevereiro de 2011

Todos à Manif!

Apesar de reunir as condições: ser licenciado, mal pago e viver em casa dos pais, não irei ao protesto convocado para o dia 12 de Março para celebração da Geração à Rasca.
Não vou por duas razões. Primeiro porque acho que os sindicatos e os partidos de esquerda não vão resistir à tentação de tomar conta da manifestação, e esta vai passar a acto político em vez do acto social que deveria ser. Segundo porque não acredito nas razões desta manifestação, e passo a explicar.
Não pertenço à geração que agora esta no poder no governo e empresas deste país, sou novo demais. Esta, a Geração Enrasca, é um produto do estado novo, que os formou para serem uma geração de corruptos, sem moral, sem ideais e apenas com vontade de se desenrascarem de qualquer maneira, nem que para isso tenham de enrascar os outros. É verdade que isto, só por si, seria razão para uma manifestação, para ver se eles ganham vergonha, mas parece-me que isso é cada vez mais uma miragem.
Agora aparece-nos a Geração à Rasca, sucedânea da Geração Enrasca e dos lindo sonho salazarista que é: já tenho um curso superior, cumpri a minha parte, agora arranjem-me um bom emprego onde eu ganhe bem sem ter de me esforçar muito, sem estar sujeito à precariedade e até ao fim dos meus dias. Pois é, antes do 25 de Abril ter um curso superior era sinónimo de tudo isto e mais um par de botas; agora já não é.
Penso que o perpetuar desta linha de pensamento é o que nos leva ao abismo. A falta de vontade de andar para a frente, de arriscar, de se lançar em voos para além da realidade está ausente desta geração. Eles vão para a rua manifestar-se porque querem ser iguais aos pais, pela estabilidade, por ordenados melhores, pela possibilidade de reforma. Como sempre, e tão convenientemente neste casos, há que culpar alguém ou alguma coisa pelo que não temos. A Geração à Rasca culpa o Governo, o Governo a conjuntura e a especulação internacional.
Tudo isto é coroado com uma cantiga que se está a tornar o hino desta geração, Parva que Sou dos Deolinda, em que uma parte reza assim:
Que parva que eu sou   
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar
Este bocado, que arrancou aplausos à plateia no Coliseu, diz bem do estado das coisas. Adia-se o marido e os filhos, mas o carrinho não, que isso, sim, é uma parte importante da vida.

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