quinta-feira, 5 de maio de 2011

Agamémnon - Vim do Supermercado e dei  Porrada no Meu Filho

Continuando com o meu périplo teatreiro, e como não há duas sem três, depois de sairmos do Chapitô fomos dar uma volta pelo chiado, e uma das minhas amigas lembrou-se de ir ver se havia qualquer espectáculo no Jardim de Inverno do São Luís. E, coincidência das coincidências, havia, e era outra peça de teatro com o sugestivo título que também é título deste "post".
O texto é da autoria do dramaturgo hispano-argentino Rodrigo García, a encenação de John Romão e a interpretação está a cargo de Gonçalo Waddington.
Não conhecia, confesso, Rodrigo García, mas de acordo com o que li pela net trata-se de um autor muito premiado, e esta obra, a sua primeira a ser levada à cena em Portugal, recebeu o prémio UBU 2004 em Itália.
A peça conta a história de um pai de família que vai ao supermercado fazer compras, e cede ao seu impulso consumista comprando uma série de coisas inúteis. Chegado a casa verifica que comprou ao seu filho uma camisola grande de mais e quando este recusa voltar com ele ao supermercado para a trocar torna-se violento. O actor convida a família para jantar fora e leva-os a um KFC, onde segue o seu monólogo numa dissertação sobre o consumismo, o capitalismo e a esperança.
O texto é bastante violento e a encenação chocante, envolvendo linguagem rude, agressividade e muito ketchup. Apesar de não conhecer o autor li algumas coisas na net que me permitem concluir que é comum nas suas peças este tipo de atitude chocante, para chamar a atenção e fazer valer o seu ponto de vista. Na minha opinião, apesar de conseguir chamar a atenção, a mensagem que pretende fazer passar é banal: uma dissertação contra os males do capitalismo, e a verdade é que já não tenho idade para me chocar, ou rir, como faziam nervosamente alguns espectadores, sempre que o actor berra um palavrão em palco, ou enche uma camisa de ketchup. Chocou-me, sim, ver a maneira como tratou alguns livros em cima de outras tantas estantes - sou muito sensível neste ponto.
Até sou capaz de aceitar que este autor seja vangloriado por uma certa "intelectualidade" pelo trabalho que faz em prol do teatro como arma de comunicação e não de entretenimento. Mas, sinceramente, já não tenho pachorra para isto. No entanto, há que dizê-lo com toda a frontalidade, o nosso grupo, onde ninguém  gostou particularmente desta peça, discutiu-a durante muito mais tempo que a anterior, que toda a gente tinha adorado; teve, pelo menos, o condão de nos pôr a discutir (no bom sentido, claro).
Resta-me dizer que, apesar de tudo, Gonçalo Waddington construiu uma personagem poderosa e parece-me que consegue extrair todo o sumo da peça.
Mais uma vez não podia recomendar que vão a correr ao São Luís ver a peça, mesmo que quisesse, porque já saiu de cena.
Para a próxima vai ser melhor com certeza, vou ver "Irene" pel' O Bando.

Sem comentários: