Entrei no cinema, como tem sido habitual nos últimos tempos, sem ninguém na sala.
O filme começa e logo de início sinto que algo não está bem. A imagem salta e tem pouca nitidez, como se fosse um filme dos anos 20. Imagino o som da máquina de projectar. Para ajudar à sensação o filme pára segundos depois de começar. Partiu a fita? foi de propósito? Não sei.
As imagens iniciais são de uma selva tailandesa, a envolvência sonora é magnífica. Quem tem este cuidado com a qualidade do som não tem aquela qualidade de imagem por acaso: é propositado.
Sou perseguido durante o filme pela sensação de que os actores debitam o texto com pouca emoção. Chegado a casa, uma rápida busca pela internet confirma-me a suspeita: o realizador gosta de usar actores não profissionais das suas produções.
Francamente, tenho de admitir que andei perdido durante o filme. A personagem principal é um homem às portas da morte. Ou será que já morreu? Recorda vidas passadas. Ou fantasia no extertor da morte? Sonha com o futuro. Ou fala com personagens que não existem a não ser na sua imaginação?
Logo no início da narrativa somos confrontados com a sua defunta mulher e o seu desaparecido filho, transfigurado num macaco-fantasma. Tudo assumido com tal naturalidade que nos leva a crer que é mesmo natural, ou seja, já estamos no reino dos mortos (ou não).
O filme evolui entre diálogos banais e paisagens tailandesas, num ritmo morno, sendo a única excepção o episódio da princesa desfigurada (que me parece ser interpretado por uma profissional e, talvez por causa disso, nos prende a atenção). Será, como li algures, uma vida passada do protagonista? Será mais um devaneio da sua imaginação? Não sei e creio que ninguém o poderá afirmar ao certo. Mas a incerteza parece-me ser o fio condutor deste filme. O realizador dá-se a grande trabalho para que nada fique devidamente certinho e arrumado.
O filme termina com a cena, talvez, mais surreal, envolvendo um monge budista que deixa de ser monge. Ou será que nunca foi? Que sai para jantar com uma das protagonistas da história. ou será que fica no quarto a ver televisão? Ou será que o que vi antes, no filme, não era a verdadeira história, e este fim sim? Ou será que este monge era apenas mais uma das encarnações do protagonista?
Não é, definitivamente, um filme para ver numa tarde de domingo, nem sequer de digestão fácil, mesmo para quem goste. A crítica que li é radical: ou adora o filme ou o odeia. Infelizmente as críticas favoráveis que li limitam-se a dizer que o filme é bom porque é bom, ou porque faz lembrar outros filmes. Sem nenhuma objectividade.
Quanto a mim, confesso, não sei se gosto ou se não gosto. Mas o filme deixou-me a pensar até muito tempo depois de o ver, e gosto disso.
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